Organismos Internacionais.
Conheça mais sobre o mercado de trabalho para gestores públicos nas organizações internacionais (como a ONU).
Carolina Paulino
14/Jan/2020
As instituições internacionais são, em geral, divididas em dois tipos: organização internacional não governamental e organização intergovernamental. O primeiro tipo é composto por ONGs que trabalham em diversas regiões do planeta, como Médicos Sem Fronteiras, enquanto o segundo é mais associado ao termo organismo internacional, que será o foco deste texto, e é composto por Estados soberanos, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).
Desses organismos derivam agências especializadas, como, por exemplo, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura), que visa ao desenvolvimento de projetos de cooperação técnica em políticas públicas para promover as metas estipuladas pela ONU. Para a obtenção de seus objetivos, é comum essas agências possuírem sedes e escritórios regionais – originados de demandas locais – nos diversos países membros . Esses projetos “se movimentam de acordo com o contexto social e internacional do momento (…) e são alinhados aos objetivos da organização, mas acabam se tornando projetos pequenos na percepção internacional”, comenta Wilson Ribeiro Jr., egresso do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH – USP que atuou como consultor da UNESCO em um projeto educacional para o estado do Ceará, em entrevista para uma disciplina do curso, “Seminários de Gestão Pública I”, no segundo semestre de 2017.
O segmento profissional voltado aos organismos internacionais costuma destacar as possibilidades de atuação dos estudantes de relações internacionais neste mercado, no entanto, as ocupações dentro dessa área variam de acordo com as necessidades das organizações. Os analistas internacionais são necessários para elaborar relatórios sobre o cenário brasileiro diante de eventos fora do país, além de análise de atividades do comércio exterior.
Os egressos do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH – USP com experiência na área destacam que a atuação pode estar ligada em muitos casos à administração ou à avaliação de políticas públicas. O mestrado em Administração Pública (MPA) seria um requisito forte para aqueles interessados em desenvolver técnicas de gestão dentro das instituições internacionais, enquanto o Mestrado em Políticas Públicas (MPP) avaliaria a efetividade das políticas públicas e como elas estariam sendo recepcionadas pelo seu público-alvo por meio de métodos quantitativos e qualitativos, características muito valorizadas no mercado dessa área.
O mercado procura profissionais que também entendam as mudanças no contexto internacional. O egresso Wilson Ribeiro Jr. destaca também que “hoje você tem que pensar qual o cenário que está se desenhando, por exemplo: o crescimento do nacionalismo no mundo inteiro. Como isso vai impactar a visão que os países têm em relação às nações unidas? E de suas agências? E como isso pode impactar nos projetos de cooperação?”.
É natural que os interessados nessa área de atuação escolham entre as suas vertentes e, posteriormente, entre o trabalho em uma sede ou no escritório de campo. O primeiro é mais relacionado com questões políticas – diálogo com todos os atores envolvidos -, advocacy e estratégia; enquanto o segundo é mais relacionado com os projetos e equipes, mais especificamente em monitoramento e avaliação de políticas públicas regionais, o que pede um bom conhecimento sobre todos os atores envolvidos (primeiro setor, organismos internacionais e sociedade civil regional) e um bom entendimento sobre os processos de advocacy e lobby, estudados no Campo de Públicas, a fim de influenciar a dinâmica da tomada de decisão, agenda e alocação de recursos dessas instituições.
Em organismos internacionais, plano de carreira não é uma prática comum. Em consultoria de projetos, por exemplo, a contratação se dá de maneira isolada e por tempo previamente determinado. Vagas comumente disponíveis são as de analista e coordenador de programas, cargos de gerência e de suporte dentro das equipes e, um dos mais populares, de consultor de projetos. Para os ingressantes no mercado de trabalho, há programas específicos para jovens em começo de carreira, que costumam ser competitivos em nível global por serem ofertados por referências em organismos internacionais, como a ONU.
No geral, o mercado de trabalho exige um profissional multidisciplinar e dinâmico, características intrínsecas aos cursos do Campo do Pública. “Você tem que ser muito flexível para conhecer outras formas de trabalhar, entender o que é educação, conhecer projetos muito distintos, escutar o que as pessoas têm a dizer, ter a cabeça aberta”, ressalta José Gilberto Boari, egresso do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH – USP que trabalha no UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), também em entrevista para a disciplina “Seminários de Gestão Pública I” do curso.
A graduação em um curso do Campo de Públicas, como Gestão de Políticas Públicas, proporciona as ferramentas necessárias para realizar a implementação e a avaliação esperadas dos projetos desenvolvidos pelos organismos internacionais. O papel do gestor, nesse contexto, é o de entender qual é o nível da efetividade do programa e reportar as questões que precisam ser reformuladas para otimizar os resultados da política.
É essencial, ainda, o desenvolvimento do pensamento estratégico e a compreensão dos impactos da atuação de setores de poder nos cenários globais. Os governos federal e estadual, onde os projetos são alocados, devem estar minimamente alinhados aos tratados internacionais e aos objetivos de tais organizações, dispostos a cooperar internacionalmente e a receber tais políticas públicas, o que resulta em uma grande absorção dos egressos dos cursos do Campo de Públicas no ramo de consultoria voltada a organismos internacionais.