Mercados Públicos.

Atualmente, tem-se diversificado o surgimento de empresas ou áreas em empresas nas quais os principais clientes são governos ou órgãos/entidades públicas. O nome usualmente concedido a essa atividade fortemente explorada por grandes e médias empresas é o de Mercados Públicos, dentre os quais está, por exemplo, a indústria farmacêutica, cujo o maior comprador é o próprio Estado, ou os setores bancário, tecnológico, alimentício ou de construção civil.

Nesse sentido, o profissional desse segmento age como um facilitador das relações de venda com o governo, seja a partir do conhecimento das leis e normas, seja a partir do conhecimento de maneiras de estabelecer contatos eficientes com as pessoas e entidades corretas. A fim de elucidar essa situação, tem-se o caso da farmacêutica suíça Roche que criou recentemente um cargo de gerente destinado, justamente, ao acesso do mercado, o que representou, portanto, a crescente demanda atual por pessoas que saibam negociar com o governo fazendo uso de seus processos burocráticos de aprovação de novas tecnologias para a promoção de convênio.

A egressa do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH – USP e funcionária da Roche, Glaucia Ribeiro, descreve esse papel como ímpar na análise do portfólio de produtos da empresa, uma vez que apenas esse tipo de gerente tem a habilidade de cruzar informações provenientes de congressos médicos, associações e pacientes a fim de planejar a estratégia de determinado produto. O exemplo da insulina é o melhor possível, haja vista que, ainda que o governo tenha que pagar um preço alto por esse insumo médico, na verdade, ele economiza em valores muito mais expressivos ao melhorar o controle sobre diabetes dos cidadãos e, portanto, evita gastos adicionais com complicações futuras. Por outro lado, o debate em convencer o governo a interromper a utilização de um tratamento médico com tecnologia obsoleta para a adoção de tecnologia mais avançada é atrapalhado por interesses políticos, o que culmina em resoluções por meio de mandatos judiciais que, contrariamente ao ideal, beneficiam somente um público muito reduzido.

Outro depoimento bastante interessante para o entendimento dos Mercados Públicos no Brasil é o do também egresso do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH – USP Rodrigo Castanho, que afirma que quando estagiou no Banco Itaú Unibanco em 2007 lidou com bases de dados sobre a saúde financeira de diversos municípios brasileiros, às quais, até pouco tempo atrás, nem mesmo pesquisadores acadêmicos tinham acesso. O contato de Rodrigo com todas essas informações se deu em razão da sua atuação na Auditoria de Contas Correntes de órgãos públicos, uma área diminuta e restrita, mas lucrativa. Dentro desse setor, por diversas vezes, ele pôde entrar em contato com pessoas e órgãos públicos de diferentes vieses com foco no convencimento desse público a aderir seus serviços, apresentando-os como o mais vantajoso desse mercado competitivo.

Por se tratar de um mercado restrito e exigente, as empresas dispõem de fortes dispositivos de compliance, motivadas, sobretudo, pelo desejo de legitimarem suas negociações com os órgãos governamentais. Tanto Glaucia quanto Rodrigo enfatizaram que o profissional dos mercados públicos devem ter comportamento ético para com seu setor e suas respectivas tomadas de decisão. Competências e habilidades priorizadas por disciplinas dos cursos do Campo de Públicas.

Além disso, eles enfatizam que o profissional em Mercado Público precisa estar sempre em busca de conhecimentos atualizados de tecnologias e assuntos governamentais relacionados ao negócio do objeto, conhecimentos e habilidades para análise de dados como ferramentas estatísticas e financeiras e desenvolver a proficiência em línguas, principalmente a língua inglesa, tanto pela oferta e oportunidades disponibilizadas por empresas multinacionais interessadas em se instalar no país, quanto também para o acesso mais fácil de conhecimentos e cursos online de universidades estrangeiras.

Saiba mais:

• Redução de preço de medicamento em situação de monopólio no Sistema Único de Saúde: o caso do Tenofovir.
• LABGOVEACH. 14ª Rodada – Iniciativa Privada: Mercados Públicos.