Profissão: Setor 2.5 (Negócios Sociais).

Entenda o que é o setor dois e meio, os seus impactos e o papel do gestor público nessas organizações.

Júlia Ferreira Franco

05/Nov/2019

Imagem ilustrativa do setor dois e meio

Pode-se dividir a sociedade em três setores: o primeiro, representado pelo Estado e responsável por administrar os bens públicos e zelar pelo bem-estar público; o segundo, referente ao mercado privado, constituído por empresas que visam à maximização do lucro; e o terceiro, representado por iniciativas da sociedade civil, formado por ONGs e outras organizações sem fins lucrativos que buscam suprir necessidades da sociedade que não são atendidas pelo poder público.

Nesse cenário, no entanto, surge um novo setor. O setor 2.5 trata-se de um termo criado recentemente para representar os negócios sociais que, de acordo com a Carta de Princípios para Negócios de Impacto no Brasil, são “empreendimentos que têm a missão explícita de gerar impacto socioambiental ao mesmo tempo em que geram resultado financeiro positivo de forma sustentável”. Esse novo setor apresenta algumas características semelhantes às do segundo e do terceiro, uma vez que são autossustentáveis e trazem retorno financeiro ao passo que não buscam apenas a maximização do lucro, mas sim a maximização do impacto social.

Existem duas correntes de negócios sociais que divergem quanto à distribuição dos lucros gerados pelo negócio. A primeira corrente defende que todo o lucro obtido deve ser reinvestido na empresa, de forma a multiplicar os benefícios socioambientais gerados. Essa corrente é liderada por Muhammad Yunus, economista fundador do Grameen Bank, um dos primeiros negócios sociais criados. A segunda corrente defende a distribuição do lucro entre os acionistas, pois crê que assim atrairia um maior número de investidores, contribuindo para a expansão dos negócios sociais.

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Muhammad Yunus, vencedor do Nobel da Paz e autor do livro “Banker to the poor

Além disso, o principal propósito de um negócio social é a solução de um determinado problema social ou ambiental, entretanto, diferentemente das Organizações da Sociedade Civil, o setor 2.5 inova ao levar em consideração o aspecto econômico das suas ações, por buscar atingir o seu objetivo por meio de estratégias e modelos de negócios. Os serviços e produtos oferecidos nesse tipo de negócio objetivam, principalmente, beneficiar diretamente pessoas pertencentes a classes econômicas com rendas mais baixas.

Apesar de ainda ser pouco conhecido, o setor 2.5 está em plena ascensão no Brasil. Em 2017, a Pipe Social mapeou 579 negócios sociais no país com atuação em diversas áreas, como educação, saúde, tecnologias verdes, cidadania e finanças sociais. Entretanto, por se tratar de uma forma de organização ainda muito recente no país e com pouca visibilidade, os negócios sociais não possuem regulamentação própria e nem costumam receber ajuda do governo para o seu desenvolvimento, ou seja, essas empresas acabam sendo reconhecidas juridicamente como empresas do segundo setor ou entidades do terceiro setor. A fim de suprir suas necessidades, o setor 2.5 conta com organizações como a  Yunus Negócios Sociais, Fundação Estudar, Sebrae, Ashoka, Artemisia, Tekoha, Instituto Ekloos e outras, que atuam como aceleradoras ou investidoras de negócios sociais, além de disseminarem conteúdo sobre o setor e ofertarem cursos relacionados a ele.

O setor 2.5 é uma excelente possibilidade de carreira para os profissionais do Campo das Públicas, pois os negócios sociais buscam em primeira instância melhorar a vida dos cidadãos e do meio em que eles estão inseridos. O profissional do Campo de Públicas mostra-se muito capacitado para impactar nesse meio em razão de sua formação multidisciplinar que aborda conhecimentos de gestão, economia, políticas públicas, direito e relações entre Estado e sociedade, contribuindo em diversas frentes para a potencialização do impacto social que o setor busca gerar.

Para atuar com negócios sociais, é essencial que o profissional seja capaz de buscar soluções de negócios e de mercado para problemas socioambientais, pois, nessa área, ambição social e econômica andam juntas. Como afirma Carolinne Pinheiro, egressa do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH – USP, que atualmente trabalha no segundo setor, “é bastante válido dizer que para trabalhar com negócios sociais é preciso acima de tudo gostar do que isso significa. Negócios sociais envolvem a vontade de mudar o mundo e de ser remunerado para tal. A real identificação com o mercado é imprescindível para atuar no mesmo”.

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Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

O setor 2.5 é uma área em plena expansão que precisa de profissionais que valorizem o coletivo e o bem-estar, que enxerguem no mercado uma possibilidade de realizar grandes mudanças que beneficiem a população e o meio ambiente, e que sejam capacitados para lidar com as relações, dinâmicas e dificuldades que cercam os negócios sociais. Um perfil de profissional bastante similar ao encontrado em egressos de cursos do Campo de Públicas.

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